24a Edição do Porto Alegre em Cena inicia dia 12 de setembro com programação que homenageia as mulheres

Festival internacional de artes cênicas movimentará a capital gaúcha com atrações locais, nacionais e espetáculos da Espanha, França, Colômbia e Uruguai

Foto: Luca Del Pia

Entre os dias 12 e 24 de setembro, o Porto Alegre em Cena realiza uma nova maratona cênica que aproximará o público gaúcho de grandes produções locais, do Brasil e do exterior, reunindo 35 espetáculos dentro da 24a edição do festival e do projeto Música em Cena. Serão 37 grupos de artes cênicas circulando pela cidade, 381 artistas, técnicos e produtores envolvidos e mais de 15 diferentes espaços culturais da capital organizados para receber as atrações.

Luciano Alabarse, fundador do festival e coordenador-geral até 2016, segue acompanhando o evento em sua nova função como secretário da Cultura de Porto Alegre, passando o bastão para Fernando Zugno, que atua há 12 anos no projeto e que foi responsável pela programação das últimas cinco edições ao lado de Alabarse. A nova curadoria faz em 2017 uma homenagem especial às mulheres, trazendo montagens encabeçadas por grandes atrizes e diretoras da cena artística e também atrações e debates sobre o gênero. “Queremos transformar o olhar, emocionar e dar voz, através da arte, para discursos importantes. E esse ano estamos homenageando as mulheres. Todas elas. Para elas nos mostrarem a sua verdade através de espetáculos que vão do show performático ao teatro intimista com a percepção de que todos eles são cada vez mais importantes de serem percebidos”, explica o novo coordenador-geral do festival, Fernando Zugno.

O evento inicia às 21h do dia 12 de setembro com apresentação inédita da Orquestra Villa-Lobos e da Companhia Jovem de Dança. Pela primeira vez juntas, duas referências da cultura de Porto Alegre estarão no mesmo palco, encantando o público do Teatro do Bourbon Country. Em seguida, atrações nacionais e internacionais começam a desembarcar na cidade, vindas da Europa e da América do Sul e dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais.

O espaço para espetáculos internacionais cresceu desde a última edição – neste ano, são quatro montagens estrangerias. Uma das maiores atrações é a nova produção de Angélica Liddell – multitalentosa artista espanhola, mundialmente consagrada e considerada um fenômeno contemporâneo das artes cênicas – que está trazendo a densa e impactante encenação de Génesis 6, 6-7 para sua estreia na América Latina dentro do Porto Alegre em Cena.

Da Colômbia, vem Maratón de New York, montagem para o texto do autor italiano Edoardo Erba concebida por El Hormiguero Teatro, grupo que se destaca pela criação de obras com diferentes linguagens cênicas e estéticas. Do Uruguai, a curadoria trará uma produção diferente das últimas que vieram do país latino-americano, investindo no espetáculo de dança contemporânea Big Bang, da Gen Danza. A segunda coreografia internacional vem da França, em Tremor and More, criação minimalista do holandês Herman Diephuis para o bailarino mineiro Jorge Ferreira.

Entre os destaques desta edição, há 11 espetáculos brasileiros, vindos do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Minas Gerais. A atriz Nathalia Timberg fará durante o festival a estreia nacional de Chopin ou Tormento do Ideal, interpretando o primeiro papel masculino de sua carreira ao lado da pianista Clara Sverner. Outros grandes nomes do teatro também se apresentarão por aqui, como Andrea Beltrão, no solo Antígona; Drica Moraes, na comédia Lifting; Georgette Fadel, em Afinação I; e Denise Weinberg, no espetáculo O Testamento de Maria, assinado por Ron Daniels.

Também integram a programação nacional Leite Derramado, montagem criada a partir do romance homônimo de Chico Buarque; O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu, que apresenta Cristo corporificado pela atriz e travesti Renata Carvalho; Guerrilheiras ou Para a Terra não há desaparecidos, um retrato sobre as mulheres que lutaram e morreram durante a Guerrilha do Araguaia; O Líquido Tátil, parceria do grupo mineiro Espanca! com o dramaturgo argentino Daniel Veronese; o solo de dança-teatro Retratos, idealizado e interpretado por Carol Cony; e Looping: Bahia Overdub, espetáculo de dança baseado nas festas religiosas de Salvador.

Entre as produções locais há o sarau Discutindo a Relação, com o flautista Ayres Potthoff, o violonista Mathias Pinto e o escritor e professor Luís Augusto Fischer misturando música e um bom papo; além dos dez espetáculos concorrentes ao 12o Prêmio Braskem em Cena. Disputam os prêmios Ícaro, com direção de Liane Venturella; Movimentos sobre rodas paradas, da Cia. In.Co.Mo.De-Te; Não me toque estou cheia de lágrimas – sensações de Clarice Lispector, da GEDA Cia. de Dança; Ramal 340 sobre a migração das sardinhas ou porque as pessoas simplesmente vão embora, do Coletivo Errática; Prata-Paraíso, da Cia. Espaço em Branco; Atma, com direção de Carol Martins, Juliana Coutinho e Renata Ibis; Fala do Silêncio, da Cia. Rústica; Iluminus, da New School Dreams; Parque de Diversões, com direção Diones Camargo e Marcos Contreras; e Acuados, da Ânima Cia. de Dança.

Neste ano, o Centro Municipal de Cultura foi escolhido para ser o Ponto de Encontro Petrobras. O espaço será decorado, receberá iluminação especial e terá food bikes e food trucks com comidas e bebidas para atender grupos teatrais e espectadores durante todo o período do evento, além de abrigar a bilheteria oficial do Porto Alegre em Cena. O local também receberá atividades paralelas, formativas e gratuitas, como mesas-redondas com artistas, diretores de festivais, nomes da cena porto-alegrense, filósofos e psicanalistas que vão trazer diferentes olhares sobre seis assuntos: curadoria, performance e a beleza perdida, a presença da mulher na cena, a mulher negra na dramaturgia contemporânea, o movimento trans nas artes e a tragédia grega no teatro brasileiro.

A madrinha do evento neste ano é a pesquisadora Esther Grossi, referência em educação no Brasil e que sempre teve uma participação muito ativa no festival, recebendo grupos e convidados em sua casa e contribuindo com o projeto das mais diversas maneiras.

Com essa programação, a expectativa é superar o número de público do ano anterior. “Desejo que todos os porto-alegrenses, sem nenhuma exceção, se interessem por pelo menos um espetáculo da nossa programação. Tomara que, ao irem a um, despertem o interesse por outros! Esse é um festival fluido, com diferentes linguagens, com tragédias, dramas e comédias, com discussões, com contemporaneidade, com clássicos, com Brasil, América Latina e Europa. Feito com amor para agitar e engrandecer nossa Porto Alegre”, finaliza Zugno.

O Porto Alegre em Cena é apresentado pelo Ministério da Cultura, Secretaria de Estado da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Petrobras e Braskem, com patrocínio Panvel, Zaffari, Rio Grande Seguradora e InBetta. Apoio cultural Opus, Fiergs e Sesi. Agenciamento cultural Primeira Fila Produções e transporte oficial 99 POP. O festival é financiado através do Pró-cultura RS, Lei de Incentivo à Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, em uma realização da Prefeitura de Porto Alegre e do Ministério da Cultura, Governo Federal.

Os ingressos para todas as atrações do festival já estão à venda na bilheteria oficial do festival, localizada no interior do Centro Municipal de Cultura (Av. Erico Verissimo, 307) e também no site portoalegreemcena.superingresso.com.br. As entradas para o espetáculo de abertura, Villa Brasil, custam R$ 20 inteira e R$ 10 meia-entrada, já as atrações locais têm valores de R$ 40 inteira e R$ 20 meia-entrada, enquanto os espetáculos nacionais e internacionais têm tickets a R$ 80 inteira e R$ 40 meia-entrada. Confira o serviço completo abaixo e veja mais informações sobre as atrações desta edição.

 

ESPETÁCULOS DO 24o PORTO ALEGRE EM CENA

 

ESPETÁCULO DE ABERTURA

Ingressos: R$ 20 inteiro / R$ 10 meia-entrada

 

VILLA BRASIL, COM ORQUESTRA VILLA-LOBOS E COMPANHIA JOVEM DE DANÇA (PORTO ALEGRE)

Dia 12 de setembro, às 21h, no Teatro do Bourbon Country

Para abrir o festival em grande estilo, o Porto Alegre em Cena reúne, pela primeira vez juntos, duas referências da nossa cultura: a Orquestra Villa-Lobos e a Companhia Jovem de Dança. Um dos programas de educação musical mais emblemáticos da cidade que há 25 anos se dedica à formação musical de crianças e jovens da Lomba do Pinheiro, a Orquestra subirá ao palco junto à nossa companhia de dança para exibir no melhor estilo esse Brasil que canta e é feliz! E, nessa parceria, a tradição musical se funde com a recém-criada Companhia Jovem de Dança, que reúne alunos das Escolas Preparatórias de Dança de cinco bairros da periferia orientados por profissionais da dança da Companhia Municipal de Dança de Porto Alegre. Num repertório que parte de Villa-Lobos – como não poderia deixar de ser – e percorre a diversidade cultural brasileira,  com Jacob do Bandolim, Ary Barroso e Nico Nicolaiewsky, entre outros, a Orquestra e a Companhia nos dão um banho de alegria para começar o 24o Porto Alegre em Cena.

 

ESPETÁCULOS INTERNACIONAIS

Ingressos: R$ 80 inteiro / R$ 40 meia-entrada

 

BIG BANG, UN CONCIERTO DE DANZA CONTEMPORÁNEA (URUGUAI)

Dias 20 e 21 de setembro, às 21h, no Teatro Renascença

Tomando como ponto de partida a ciência e, em especial, a física e a cosmologia, este concerto de dança contemporânea abre um questionamento existencialista acerca do nosso lugar no mundo. Dentro de uma proposta que conta com recursos tecnológicos e iluminação inovadora – tudo desenvolvido singularmente para este espetáculo – a respeitada coreógrafa uruguaia Andrea Arobba, junto à companhia Gen Danza, segue sua incansável pesquisa de investigação sobre as linguagens possíveis atualmente na dança, representando uma renovação na cena cultural uruguaia e contando não apenas com bailarinos, mas também artistas de diversas áreas. Nesta encenação, que conta com 14 artistas em cena – e que, juntamente com a diretora, envolveram-se ativamente em sua criação – a ideia é vaporizar as fronteiras entre música e performance.

 

GÉNESIS 6, 6-7 – TRILOGIA DEL INFINITO III (ESPANHA)

Dias 16 e 17 de setembro, às 20h, no Teatro do Sesi

Inédita na América Latina, a densa e impactante encenação de Gênesis VI: 6-7 estreou esse ano na Europa e chega ao Brasil através do Porto Alegre em Cena. Terceira parte da Trilogía del Infinito, composta ainda por Esta breve tragedia de la carne e seguida por Qué haré yo con esta espada?, o espetáculo tem como ponto de partida uma passagem extraída do Velho Testamento. Concebido por Angélica Liddell, a montagem é da companhia Atra Bilis Teatro. Obcecada por temas intangíveis e que fogem à razão, tendo como principais pilares criativos a morte, o amor, deus e o sexo, Liddell – dramaturga, atriz, poetisa, diretora e produtora que não impõe barreiras entre obra e vida pessoal – traz à cena o que há de mais perverso no ser-humano: a decadência das instituições e a perda da beleza.

 

MARATÓN DE NEW YORK (COLÔMBIA)

Dias 13 e 14 de setembro, às 20h, no Teatro Bruno Kiefer

A montagem para o texto do autor italiano Edoardo Erba concebida por El Hormiguero Teatro – grupo de Bogotá que conta com artistas multidisciplinares e destaca-se criando, desde 2011, obras voltadas às temáticas socialmente comprometidas – convida o espectador a embarcar numa espécie de viagem teatral surpreendente. Com linguagem coloquial e roteiro ágil e extremamente direto, a realidade mistura-se facilmente com visões, elementos cósmicos e metafísica, transformando e enriquecendo a encenação, que mostra as relações entre dois amigos que treinam exaustivamente para a maratona de Nova York e como este cansaço, metaforicamente, pode afetar a vida, gerando uma ampla reflexão que conduz a plateia a uma dimensão mais elevada e etérea.

 

TREMOR AND MORE (FRANÇA)

Dias 15 e 16 de setembro, às 19h, no Teatro do SESC

Impressionado com a inventividade e rapidez com que o jovem bailarino Jorge Ferreira apropriava-se de diferentes propostas e facetas artísticas, durante workshop realizado em 2016, Herman Diephuis – coreógrafo holandês radicado na França – resolveu perscrutar esta capacidade de transformação e do fortuito encontro nasceu este sensível e intimista solo de dança contemporânea, que aproxima-se de uma abstração cênica. Em estilo minimalista, com trilha sonora inebriante composta especialmente por Pierre Boscheron e usando como princípio para todo o movimento a agitação e o tremor, a coreografia apresenta um fluxo intenso de sensações, explorando o corpo do bailarino numa grande e enérgica metamorfose de ritmos, uma espécie de frisson, uma dança ritual e catártica, chegando quase ao transe, em total cumplicidade artística.

 

 

ESPETÁCULOS NACIONAIS

Ingressos: R$ 80 inteiro / R$ 40 meia-entrada

 

AFINAÇÃO I (SÃO PAULO)

Dias 13 e 14 de setembro, às 19h, no Teatro do SESC

Em Afinação I, a competente atriz, dramaturga e diretora Georgette Fadel corporifica Simone Weil, pensadora e professora francesa, ministrando uma espécie de conferência sobre a relação entre opressão e sofrimento, bem como o impressionante boicote ao pensamento racional. Com textos de Brecht, Hegel, da própria Weil e algumas citações de Marx, o solo é todo sobre liberdade e tem como intuito celebrar a razão humana, deixando todo o protagonismo para os movimentos do pensamento. Com cuidado e sensibilidade ímpar, frutos da crueza e simplicidade da linguagem concebida para esta montagem, a personagem afina as ideias, buscando com afinco fazê-las existir também no coração do público, no entanto sem que haja doutrinação. Metaforicamente, um violoncelo é o objeto de expressão desta sutil afinação.

 

ANTÍGONA (RIO DE JANEIRO)

Dias 21 e 22 de setembro, às 21h, no Theatro São Pedro

Celebrando seus 40 anos de carreira, a incontestável atriz Andrea Beltrão constrói este monólogo – baseado na tradução de Millôr Fernandes para a obra homônima de Sófocles – ao lado do experiente Amir Haddad, um dos maiores diretores de teatro do Brasil, dono de uma história de 80 anos de vida e 60 anos de palco, famoso por seus espetáculos de teatro, suas parcerias com grandes atores e por suas encenações de teatro de rua em meio ao público. Em perfeita harmonia de ideias, o clássico ganha contornos bastante contemporâneos – apesar de o texto datar de 441 a.C. – em que o despojamento e a simplicidade da cena dão ainda mais força às palavras, rompendo totalmente as barreiras do tempo. Nesta montagem, a tragédia desenrola-se a partir da árvore genealógica da protagonista, Antígona, chegando até os deuses do Olimpo, sempre de forma muito direta e trazendo como principal ponto de reflexão o conflito entre as leis dos deuses e as leis dos homens.

 

CHOPIN OU O TORMENTO DO IDEAL (SÃO PAULO)

Dias 15 e 16 de setembro, às 21h, e dia 17, às 18h, no Theatro São Pedro

Nesta homenagem delicadamente romântica a Chopin – concebida e roteirizada originalmente por Philippe Etesse e que, nesta montagem inédita no Brasil, conta com a direção do consagrado José Possi Neto – a atriz Nathalia Timberg, pela primeira vez em sua grandiosa carreira, interpreta no teatro uma personagem masculina ao lado de uma das maiores pianistas brasileiras: Clara Sverner. Partindo de cartas e declarações de sua amante, o espetáculo ilumina, através deste encontro de música e palavras, 20 anos da vida e da obra de Chopin, sugerindo uma atmosfera impalpável que emerge de dentro da personagem e que divide-se entre um doloroso cotidiano e um ideal inatingível. Eis uma encenação que representa um complexo e delicado desafio, em que a simplicidade e o intimismo são os únicos meios possíveis para atingir a sofisticação e o requinte exigidos.

 

O EVANGELHO SEGUNDO JESUS, RAINHA DO CÉU (SÃO PAULO)

Dias 21 e 22 de setembro, às 22h, na Pinacoteca Ruben Berta

Com texto de Jo Clifford, dramaturga transgênero escocesa, o espetáculo – uma espécie de mistura entre monólogo e contação de histórias – apresenta Jesus no tempo presente corporificado pela empática atriz e travesti Renata Carvalho. Histórias bíblicas conhecidas, como O Bom Samaritano, A Semente de Mostarda e A Mulher Adúltera, são recontadas em uma perspectiva contemporânea, propondo uma reflexão sobre assuntos extremamente relevantes no contexto de hoje: a opressão e a intolerância sofridas por pessoas trans e grupos sociais minorizados. Como não poderia deixar de ser, visto que subverte questões religiosas, a peça vem causando grande frisson e alguma controvérsia por onde passa, ainda que a ideia seja, justamente, transmitir uma mensagem de amor e aceitação, buscando a transformação do olhar do público para diferentes identidades.

 

GUERRILHEIRAS OU PARA A TERRA NÃO HÁ DESAPARECIDOS (SÃO PAULO)

Dias 18 e 19 de setembro, às 19h, na Sala Álvaro Moreyra

O espetáculo é um poema cênico, entre ficcional e documental, que resulta de extensa e, principalmente, intensa pesquisa realizada sobre a guerrilha às margens do Rio Araguaia ocorrida durante a ditadura militar. Idealizada por Gabriela Carneiro da Cunha, com direção de Georgette Fadel e dramaturgia de Grace Passô – três consolidadas artistas – a montagem narra a luta de doze mulheres que viveram e combateram na região, com sensibilidade fina, buscando iluminar e manter acesa a chama sobre este obscurecido episódio da história. As imagens desveladas em cena levam o espectador a mergulhar na dramaticidade da história e, ao mesmo tempo, metaforicamente, associar a diversos outros fatos da vida, transmitindo uma mensagem de que a questão fundamental segue como o próprio rio.

 

LEITE DERRAMADO (SÃO PAULO)

Dias 13, 14 e 15 de setembro, às 21h, no Teatro Renascença

Partindo do romance homônimo de Chico Buarque, a obra da companhia Club Noir – criada, em 2006, pelos consagrados Roberto Alvim (diretor) e Juliana Galdino (atriz) e declarada patrimônio cultural da cidade de São Paulo em 2014 – propõe uma elaboração estética da singular experiência do tempo no Brasil, situando-se numa interzona na qual tudo se transmuta apenas para repetir-se em sua sórdida estrutura autodevoradora: delirando, nos últimos instantes de sua vida, o protagonista (interpretado pela genial Juliana Galdino) é atravessado por eventos cruciais da história do país, em um pandemônio no qual ruem as fronteiras entre mundo interno e externo, passado e presente, memória e imaginação, religião e poder, apontando para a necessidade urgente de reconstrução de procedimentos éticos em direção a novas possibilidades de ação política.

 

LIFTING (SÃO PAULO)

Dia 23 de setembro, às 21h, e dia 24, às 18h, no Theatro São Pedro

Partindo do desejo de fazer um espetáculo de teatro irreverente e despojado, quatro atrizes incontestáveis e amigas de longa data – Angela Rebello, Drica Moraes, Lorena da Silva e Solange Badim – uniram-se para encenar esta peça com alta voltagem de humor, com texto do espanhol Felix Sabroso e direção de Cesar Augusto. Inspiradas pelas linguagens cênicas do cabaré e do besteirol dos anos 80, as atrizes desdobram-se em múltiplas personagens, todas com algo em comum: obcecadas por manter-se com aparência jovem eternamente, apresentando ao público uma comédia com espírito underground que, além de bastante divertida, traz pitadas de sarcasmo e crítica social, de forma leve, acessível e popular.

 

O LÍQUIDO TÁTIL (MINAS GERAIS)

Dias 19, 20 e 21 de setembro, às 18h, na Sala Carlos Carvalho

A montagem do sólido grupo mineiro Espanca! – que vem há mais de dez anos expandindo discussões acerca de códigos teatrais e a escrita de uma “poética da violência”, bem como apresentando uma estética sempre conectada com a contemporaneidade, a diversidade e suas contradições – é o resultado de um mergulho em conjunto na obra de Daniel Veronese, diretor e dramaturgo argentino e um dos nomes mais reverenciados do teatro atual. A encenação, que conta com potentes atuações de Grace Passô, Gustavo Bones e Marcelo Castro, gira em torno de uma família inquietantemente realista e seus diálogos sobre as artes, o ato teatral em si e os desejos inconscientes que perseguem o homem, o que acaba por provocar diversas tensões e desvendando distintas visões sobre a relação existente entre a vida e a arte.

 

LOOPING: BAHIA OVERDUB (BAHIA)

Dias 13 e 14 de setembro, às 21h, na Fundação Iberê Camargo

Looping: Bahia Overdub é festa, dança e política. As “festas de largo” de Salvador e suas contradições são a paisagem predominante do espetáculo, que emerge do encontro entre pensamento sonoro e pensamento coreográfico. Looping constitui um estudo do tempo: repetição e acumulação. Movimentos de tensão e distensão da cultura, através de procedimentos que organizam sonoridades, corpos e espaços. Assim como nas ruas, o que está em jogo são arranjos coletivos através de uma participação estético-política. Looping: Bahia Overdub é uma criação colaborativa de artistas independentes, cujas práticas interdisciplinares atravessam a dança, o teatro e a música.

 

RETRATOS (RIO DE JANEIRO)

Dia 20 de setembro, às 19h, na Sala Álvaro Moreyra

Do universo de autorretratos da artista americana Cindy Sherman – conhecida por suas inventivas imagens em que corporifica personagens fictícias em diferentes situações, das mais inusitadas às mais cotidianas – surgiu a inspiração para este solo de dança-teatro idealizado e interpretado por Carol Cony. Com direção de Cristina Moura, esta confluência criativa entre as duas artistas e a obra da fotógrafa resulta num potente espetáculo que transita entre linguagens, engrandecendo a performance, que transborda os limites da coreografia e subverte instantes, criando a atmosfera perfeita para evocar os climas das variadas personagens – mulheres fictícias com passado, presente e futuro – numa viagem imagética conduzida habilmente pela bailarina.

 

O TESTAMENTO DE MARIA (SÃO PAULO)

Dias 19 e 20 de setembro, às 20h, no Teatro CHC Santa Casa

O solo – assinado por Ron Daniels e interpretado primorosamente pela talentosa atriz Denise Weinberg – subverte a imagem sagrada da mãe de Jesus. Com texto do irlandês Colm Tóibín, o monólogo – que teve sua produção original na Broadway por Scott Rudin – embaralha o senso comum a respeito desta personagem tão cristalizada através do cristianismo. Em sua primeira montagem no país, Weinberg personifica uma Maria totalmente humanizada e já no fim de sua vida, exilada em Éfeso (Turquia). Sedenta por desvendar os mistérios da crucificação de seu filho, ao mesmo tempo inconformada e imersa em angústias, esta mulher revela uma figura de enorme estatura moral e que não admite calar-se perante a crueldade dos romanos, bem como a estranha e – para ela – inexplicável exaltação dos discípulos de seu filho.

 

ESPETÁCULO LOCAL

Ingressos: R$ 40 inteiro / R$ 20 meia-entrada

 

DISCUTINDO A RELAÇÃO – MÚSICA E LITERATURA (PORTO ALEGRE)

Dia 23 de setembro, às 21h, no Auditório do Goethe Institut

Ayres Potthoff, Mathias Pinto e Luís Augusto Fischer resolveram se encontrar porque tinham certeza de que o Brasil já teve momentos em que, das tensões e das diferenças, se criou arte, da mais alta qualidade. Literatura e música, o erudito e o popular, o nacional e o importado, o bem-comportado e o safado, o apolíneo e o dionisíaco são polos opostos — e entre eles se erigiu a grande literatura de Machado de Assis e a enorme música de Pixinguinha. Música e um bom papo, leitura e audição, estão no sarau Discutindo a Relação, que vai retornar ao tempo em que grandes sínteses estéticas estavam sendo geradas. Vai retornar para viver aquela beleza, que está lá mas continua viva e, quem sabe, nos ajudará a viver melhor por aqui.

 

ESPETÁCULOS LOCAIS QUE CONCORREM AO 12o PRÊMIO BRASKEM EM CENA

Ingressos: R$ 40 inteiro / R$ 20 meia-entrada

 

ACUADOS (PORTO ALEGRE)

Dias 13 e 14 de setembro, às 19h, na Sala Álvaro Moreyra

Em comemoração aos 25 anos da consistente e prolífica trajetória da Ânima Cia de Dança (mais de 15 espetáculos na bagagem), e para marcar os dez anos da Lei Maria da Penha, Acuados é um espetáculo de dança contemporânea que aborda a questão da violência contra a mulher.  De forma poética, a companhia traz à cena reflexões sobre esta tragédia cotidiana vivida por tantas mulheres, denunciando, sensibilizando e instigando o público acerca deste doloroso assunto – em especial a violência no âmbito doméstico – e seus desdobramentos, que vão desde a destruição da própria autoestima até a degradação dos relacionamentos familiares e sociais no geral.

 

ATMA (PORTO ALEGRE)

Dias 15 e 16 de setembro, às 19h, na Sala Álvaro Moreyra

Inspirado na estética espacial de filmes de ficção científica, o espetáculo convida o público a mergulhar numa viagem sensorial, transitando pelas técnicas de malabarismo, acrobacia aérea e dança. Inspiradas pelo conceito da palavra Atma, de que existe uma essência imaterial e universal em que todos os seres estão ligados numa mesma teia cósmica, as três artistas que encabeçam esta encenação autoral – Carol Martins, Juliana Coutinho e Renata Ibis – sugerem uma reflexão poética sobre o humano e sua (des)conexão com o universo, numa proposta de experimentação antigravitacional baseada na linguagem do circo contemporâneo.

 

FALA DO SILÊNCIO (PORTO ALEGRE)

Dias 22 e 23 de setembro, às 19h, na Sala Álvaro Moreyra

Em continuidade à investigação da cena como estado de encontro, a Cia. Rústica traz ao palco uma encenação sobre amor, naufrágio e rock’n’roll, numa trama permeada pelos acontecimentos políticos e sociais da última década. Misturando vida privada, memórias contemporâneas e percepções sobre o funcionamento da sociedade atual, a dramaturgia é composta por uma escrita polifônica, que parte da obra Traições, de Harold Pinter, e ganha contornos autorais com textos criados pela diretora durante o processo de ensaios. Três atores, uma bateria, uma guitarra e microfones combinam música ao vivo, textos, silêncios, movimentos, emoções e situações, que integram-se ao espaço de forma peculiar e dão margem a desvios poéticos que transcendem ao comum.

 

ÍCARO (PORTO ALEGRE)

Dias 21 e 22 de setembro, às 21h, no Auditório do Goethe Institut

Em cena, um artista desdobra-se em seis histórias com um único ponto convergente: depoimentos ficcionais de pessoas cadeirantes. Em sua estreia como dramaturgo, Luciano Mallmann (ator e bailarino) traz à luz uma reflexão acerca da fragilidade humana a qual todos estão expostos. Inspirado em suas próprias experiências e de pessoas que conheceu após sofrer lesão medular, em 2004, o monólogo mistura realidade e ficção, numa espécie de mosaico sobre a diversidade humana, partindo de temáticas universais, como relacionamentos interpessoais, abandono, maternidade e preconceito. Com direção de Liane Venturella, a montagem é marcada pela valorização do trabalho de ator, que dialoga diretamente com a plateia.

 

ILUMINUS (PORTO ALEGRE)

Dias 22 e 23 de setembro, às 21h, no Teatro Renascença

Partindo da construção de imagens e movimentos a partir da iluminação, o espetáculo de danças urbanas da New School Dreams é o resultado de uma pesquisa de investigação sobre a transformação de seres de sombras em humanoides, que se modificam constantemente pela presença ou ausência de luz. Essas metamorfoses dos corpos dançantes – que oscilam entre a escuridão e a revelação – instigam a percepção do observador, propondo questionamentos sobre as relações de interação cênica entre movimento e iluminação. O espetáculo subverte alguns conceitos da dança, explorando suas potencialidades e trazendo uma nova relação entre bailarinos e objetos de cena, numa criativa coreografia contemporânea.

 

MOVIMENTOS SOBRE RODAS PARADAS (PORTO ALEGRE)

Dias 20 e 21 de setembro, às 21h, no Estacionamento do Teatro de Câmara Túlio Piva

Marcando uma virada estética e de linguagem da Cia. In.Co.Mo.De-Te, esta comédia é composta por cinco esquetes que vertem divertidas reflexões sobre a vida cotidiana, retratando com humor ácido situações inusitadas. Neste espetáculo, muito além de meros elementos cenográficos, carros de verdade entram em cena e constituem uma espécie de palco para os atores, que também contracenam dentro dos veículos. Uma reflexão sobre a vida e a arte, a ideia central da encenação é a existência de situações que podem transcender, levando as pessoas a mudanças concretas, mas que acabam por não ir adiante por diversos motivos, dentre eles a hesitação, revelando a imobilidade do ser humano perante a própria existência.

 

NÃO ME TOQUE ESTOU CHEIA DE LÁGRIMAS – SENSAÇÕES DE CLARICE LISPECTOR (PORTO ALEGRE)

Dias 20 e 21 de setembro, às 19h, no Teatro do SESC

Unindo dança, literatura e artes visuais, a obra coreográfica da GEDA Cia. de Dança Contemporânea (fundada em 1980 no interior do estado do Rio Grande do Sul) é baseada na intrincada personalidade da escritora Clarice Lispector, nascida na Ucrânia e radicada no Brasil, e transpõe a intimidade essencial de suas palavras à linguagem da dança. Composto em três partes – nascimento, infância e vida adulta – o espetáculo solo busca enfatizar as perturbações e inquietações desta mulher paradoxal, sombria e ao mesmo tempo cheia de coragem, que com seus textos reflete sobre a vida de uma forma bastante ampla, transitando desde as dimensões mais lúdicas da infância até as mais austeras paragens da maturidade. Esta obra teve sua primeira direção cênica, para a Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, em 2011, realizada por João de Ricardo.

 

PARQUE DE DIVERSÕES (PORTO ALEGRE)

Dias 17 e 18 de setembro, às 22h, na Galeria La Photo

Recheado de sarcasmo e ironia, este monólogo dramático com ares de stand-up comedy propõe uma inquietante reflexão sobre o mundo contemporâneo através da figura de um homem que se sente anestesiado pela realidade à sua volta. No palco, o personagem comenta à plateia os fatos que o levaram àquele estado de absoluta letargia, enxergando nas circunstâncias apenas desculpas para se refugiar em seu apartamento. Sua paz somente é rompida pelo parque de diversões montado bem em frente à sua janela e que insiste em, dia após dia, invadir seu quarto com ondas de intolerável alegria. Escrito e dirigido pelo dramaturgo Diones Camargo em parceria com o ator Marcos Contreras, o espetáculo – que une performance, linguagem audiovisual e experimentação sonora ao vivo – foi definido pelo dramaturgo Mário Bortolotto como “uma boa surpresa, com um texto muito bem escrito e um ótimo ator”.

 

PRATA-PARAÍSO (PORTO ALEGRE)

Dias 14 e 15 de setembro, às 18h, na Sala Carlos Carvalho

A montagem da Cia. Espaço em Branco aborda a complexa temática da morte contando a história de um jovem artista, falecido há muito tempo vítima do HIV, que retorna da escuridão para acertar contas com sua família e sociedade heteronormativa. Prata-Paraíso é uma escatologia no sentido mítico, uma fábula gay sobre o fim do homem e da civilização. Uma extravagância politicamente afiada, nutrida pelo sangue glorioso e contagioso dos artistas queer aos quais presta-se homenagem. Nela, o encenador JdR radicaliza sua relação com o teatro em si, levando ao ápice questões presentes em suas montagens anteriores – a atitude underground do faça você mesmo e as interferências causadas por outros suportes, que misturam-se e aprofundam a performance. A cena descarnada e tecnológica é um convite à imaginação ativa dos espectadores.

 

RAMAL 340: SOBRE A IMIGRAÇÃO DAS SARDINHAS OU PORQUE SIMPLESMENTE AS PESSOAS VÃO EMBORA (PORTO ALEGRE)

Dias 16 e 17 de setembro, às 21h, no Teatro Renascença

Ramal 340: sobre a migração das sardinhas ou porque as pessoas simplesmente vão embora trama fragmentos de narrativas de viagens, despedidas e encontros, num fluxo veloz e não linear de acontecimentos que concorrem no ramal. São seis histórias envolvendo pessoas espalhadas no espaço e no tempo do mundo, pessoas ligadas pelo movimento, pelo desejo, pela falta ou simplesmente pela completa incompreensão sobre a própria experiência. Seis histórias que se encontram, dobram-se umas sobre as outras e multiplicam compondo uma história sobre como a vida se transforma completa e inesperadamente e, de repente, você se vê num aeroporto ou rodoviária ou estação de trem, com uma mala na mão, esperando… uma história sobre um mundo onde lugares, lados e identidades estão em constante desfazimento-fazimento, sobre movimento.

 

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